A Pequena Entrevista

A entrevista concedida hoje pelo Dr. JEB à Judite de Sousa, ao contrário do que o nome do programa sugere não foi uma grande entrevista. Atrevo-me mesmo a dizer que pelo contrário foi uma pequena entrevista quer na sua duração ( mas regras são regras ) quer na qualidade e pertinência das perguntas colocadas, o que obviamente se reflectiu nas respostas oferecidas.

Entendo que Judite de Sousa esteja mais habituada a ouvir à mesa lá de casa conversas sobre a quotidiano "uampião" da boca do seu mais-que-tudo Fernando Seara, mas convinha ter-se preparado um bocadinho melhor pois a verdade é que não abordou muitos dos temas mais quentes do momento no que ao SCP concerne.

Ainda assim penso que para lá de todo o delirante mundo em que JEB perece viver ( onde o mau momento actual se resume às 10 bolas ao ferro; ao pessimismo crónico do adepto sportinguista e à má-imprensa ) o resultado final até nem foi tão mau como inicialmente vaticinei.

Continuo a pensar que JEB é um grande sportinguista; que está a encarar o seu mandato com um quê de espírito de missão ( podia estar mais sossegado e a ganhar mais dinheiro noutras bandas ) e que no essencial tem o ADN do sportinguista comum no que toca aos princípios do amor à verdade desportiva; ao respeito pelo adversário e ao desejo de um tratamento igualitário no que à comunicação social diz respeito.

Por isso mesmo tenho para mim que os momentos onde melhor se saiu foi precisamente quando ,sem se esquivar a dar uma talhada no adversário do Norte, comentou as escutas, ou quando por exemplo proferiu a frase " não pensem que por não irmos à guerra somos tótós ! " e que subscrevo em absoluto.

Esta sua nova abordagem é quanto a mim um dos trunfos de JEB e ao qual não vejo ser dado o mínimo destaque por parte da imprensa e dos comentadores do costume que, ávidos de sangue jamais poderão "gostar" de um presidente que não põe a mão na anca por tudo e por nada pois isso não vende. JEB entende - e bem - que há que romper de uma vez por todas com o paradigma de que para ser presidente de um clube de futebol em Portugal há que ser quase-analfabeto, grosseiro e tratar de forma desrespeituosa e ordinária os adversários. Nisto estou com ele devo dizer.

Depois veio a parte complicada: o futebol.

JEB faz-me lembrar aquela piada que se costumava dizer no gozo quando era puto, do género " o gajo até joga bem, a bola é que atrapalha um bocadinho". Pois aqui passa-se o mesmo.

Para o nosso presidente está tudo em ordem, a equipa é lutadora, os homens choram no balneário quando perdem e o Paulo Sérgio faz muito bom ambiente e trabalha bem o grupo.

No fim: 10 pontos em 7 jogos. Mas isso são detalhes.

Aceito que o quadro a nível interno até possa ser tão bonito como JEB o pinta mas temo que se não começarmos a vencer e a convencer a breve trecho o estádio vai ficar literalmente às moscas pois a forma ingénua como temos oferecido pontos aos adversários é de deixar um homem exasperado. Como costumo dizer quando estou a sofrer em Alvalade: O Porto ficou com o AVB e nós daqui a pouco ficamos é com um AVC !

Outro tema onde pôs os pés-pelas-mãos foi no caso Pongolle. A verdade é que para lá de todos os seus esforços não se pode entender a sua contratação e posterior cedência sem ter garantido um substituto à altura. Esta questão do avançado foi por exemplo uma das que ficou de fora.

Já no caso Izmailov acho que JEB esteve francamente bem: Izmailov desrespeitou as regras internas do clube; mentiu e continua a usar de um discurso dúbio e quase ininteligível quando fala do Sporting, o que denota uma clara vontade de forçar o clube a prescindir dos seus serviços. Penso que o russo se está a fiar na fraqueza que JEB demonstrou quando se ajoelhou perante a afronta do anão quando este o forçou a deixá-lo ir para o FCP, mas parece estar-se a esquecer que nem o SCP precisa neste momento tanto do dinheiro que uma eventual transferência lhe proporcionaria ( como precisava na altura pois tinha de reforçar o plantel ) nem o JEB se pode dar ao luxo de brindar os sócios e adeptos com mais uma desagradável surpresa desse género, pelo que antevejo que ou o Izmailov baixa a garimpa ou ainda vai ter muito de penar no Goulag de Alcochete.

A tensa relação com a imprensa; a recente manifestação de sócios e adeptos; o salário; o regulamento interno em vigor para o plantel; a entrevista de Bento Valente; a oposição; a AG marcada para o dia 13, eram quanto a mim outros temas que deveriam ter sido abordados mas que por falta de tempo e impreparação da entrevistadora, não mereceram qualquer atenção.

Para finalizar apraz-me registar duas coisas:

1) que JEB parece estar disposto para ir a eleições quando a tal for obrigado, o que, segundo diz, apenas ocorrerá quando exisitirem alternativas credíveis ( Pareceu-me com isto estar a querer passar uma mensagem para os que se movimentam ou eventualmente se poderão movimentar para lhe tentar suceder );

2) que os 18 milhões do protocolo assinado com a CML serão aplicados na redução do passivo, o que quanto a mim é uma excelente notícia pois o passivo gigantesco que temos entre mãos neste momento é o maior lastro que nos impede de nos aproximarmos dos nossos eternos rivais em termos de competitividade do plantel.

Em resumo, uma entrevista dentro do que se esperava e onde JEB demonstrou estar com mais fôlego do que aquilo que eu previa, perante todas as bombas que insistem em explodir-lhe na cara nos últimos tempos.

Fico com a sensação de que gostaria sinceramente de o ver triunfar à frente do SCP mas não consigo confiar no seu trabalho a nível do futebol ( nas amadoras o caso é diferente e digno de elogios ) nem dar-lhe mais benefício da dúvida do que já dei até à data.

Vamos aguardar pela próxima semana e pela AG do clube para ver se algum dos tribunos que na TV, rádios, jornais e net se mostram tão defensores do SCP, têm a coragem e a força necessárias para criar uma vaga de fundo que permita mudar de imediato esta Direcção ainda que isso traga evidentes consequências nefastas no imediato por estarem a decorrer várias provas onde o clube está envolvido, mas isso perde toda a importância perante a urgência de inaugurar uma nova era tão rapidamente quanto possível.

Veremos.

SL