quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A AG de 13 de Outubro


Tendo estado ontem presente na AG do SCP eis a minha visão do que ali se passou:

O DISCURSO DE JEB

O discurso inicial do presidente foi quanto a mim um discurso realista e ponderado no que toca às questões financeiras e económicas.
Tal como o nosso presidente ontem bem disse estes são tempos duros não só para o Sporting mas também para qualquer empresa ou particular que se pretenda financiar uma vez que a torneira do crédito se encontra totalmente fechada, sobretudo quando quem o solicita é um clube de futebol altamente endividado e com expectativas de retorno incertas porque dependentes de uma bola bater no poste ou entrar na baliza.
Segundo nos foi dito a luta neste momento é exactamente essa: ficar cada vez menos dependentes dessas receitas extraordinárias e tentar fazê-lo sem perder competitividade.
É uma equação difícil mas prefiro sabê-lo de antemão da boca de quem dirige o clube do que andar a comprar ilusões vendidas pela Direcção. Nessa óptica é de louvar o discurso de JEB.
Quanto ao passivo nem uma palavra, o que foi mau ,pois é um tema que está na ordem do dia uma vez que o nosso presidente em apenas uma semana falou na TV em 400 milhões de passivo na SAD e ao jornal do Sporting em passivo zero no clube assim que recebermos os 18 milhões da CML. Tal como muitos dos presentes não percebi e pesar de lhe terem sido solicitados esclarecimentos pelos sócios não foi oferecida uma resposta cabal que, a ter sido dada, poderia diminuir o ruído à volta deste tema, tal como pretendido por JEB. Teve essa oportunidade e não aproveitou, o que foi pena.
Pelo contrário, e quando o tema é futebol, JEB fica quase nos antípodas da clarividência, profundidade de análise e vontade de esclarecer que demonstra quando fala de números. Tudo parece girar à volta do azar e da má-sorte quando todos sabemos que a sorte se procura e que o azar se reduz com trabalho e competência e aí seria bom que as responsabilidades fossem assumidas sem reservas. Há azar ? Concerteza que há, mas isso há para nós e para os outros e no fim de contas podemos perder um jogo por azar, agora perder um campeonato por azar...só se for por um GRANDE AZAR, quer-me parecer.
Na parte final da Assembleia JEB voltou a falar à nação e aí fez, quanto a mim, bem em assumir de forma sincera e descomplexada ter errado no passado quando brindou alguns adeptos com o epíteto de terroristas, ou quando se envolveu numa peleia verbal com um deles em particular.
A ideia que fica no ar é que JEB é um homem que trabalha na sombra e que é aí que se sente bem pois não tem grandes dotes de comunicador nem consegue ter estômago para ouvir e calar quando recebe críticas que lhe parecem infundadas ( e há que convir, que algumas o são ).
Em suma, preferia ter um presidente mais disponível para rebater as críticas que com fundamento lhe são assacadas e mais capaz de ignorar os ataques pessoais, gratuitos e por vezes mal-educados que alguns lhe fazem. É que ser forte com os fracos ( sócios e adeptos do próprio clube ) e fraco com os fortes ( PC e LFV ) é fazer precisamente o contrário daquilo que o povo sportinguista ontem lhe exigiu variadíssimas vezes.

A VOTAÇÃO

Ver hoje as declarações de Dias Ferreira saída da AG em que este diz que um resultado de 59% - 38% na votação do relatório e contas não constitui um cartão amarelo à actual Direcção faz-me pensar em como a sua antes admirada frontalidade e clareza de discurso está um bocadinho como a situação do nosso Sporting, ou seja: já conheceu melhores dias.
É claro que a vitória é evidente e não pode ser posta em causa mas isso não significa que este resultado verificado 15 meses depois de uma vitória eleitoral por cerca de 90% não tenha de ser tido em conta por quem dirige os destinos do Sporting.
Penso que nem o presidente teria a ousadia de dizer tal coisa.
Como democrata que sou devo congratular ainda os vencedores apesar de ter votado em sentido contrário ao Relatório tal como aconteceu com uma vasta parte dos 805 associados presentes, mas o peso dos sócios mais antigos voltou a prevalecer, o que, me parecendo bem ( acho que tem mais anos de filiação deve ter mais peso na hora das decisões ), não me obriga a ignorar ou omitir aquilo que ontem foi claramente constatável: a franja dos que chumbaram o ReC era constituída por gente bem mais jovem do que os que votaram favoravelmente o documento.


AS INTERVENÇÕES DOS SÓCIOS


Tal como se previa as intervenções dos associados constituiram o momento mais animado da noite.
Houve de tudo. Desde o típico sócio com uma vida inteira de filição e que, qual guardião da memória da antiga porta 10-A, perorou sobre toda e qualquer contratação frustrada ou concretizada; até ao mais esclarecido associado que, com alguma bagagem técnica, discutiu questões mais contabilísticas que acabaram por causar alguns bocejos na audiência.
Mas entre uns e outros houve alguns temas transversais a quase todas as intervenções tais como:

1) exigir que o clube assuma uma posição quanto ao tema “apito dourado” ;
2) não fazer pactos com nenhum dos nossos rivais em qualquer âmbito;
3) declarar inequivocamente o não-apoio do SCP ao putativo candidato a presidente da FPF, Fernando Seara;

Depois houve também quem recordasse a Direcção da contratação de Pongolle, da dispensa do “Montinho” para o FCP, do Caso Izmailov, da história do pára-quedas, entre outras, mas tudo feito num clima relativamente pacífico apenas pautado aqui e a ali por algumas interrupções despropositadas. Contudo se tivermos em conta que estavam no pavilhão mais de 800 associados a coisa até correu bastante bem. Diria mesmo que na Assembleia da República já vi comportamentos bem menos edificantes e lá só estão 230 deputados...quando não falta nenhum, o que é raríssimo.
Mas – e há sempre um “mas” - o que salta cá para são sobretudo as cenas tristes, à cabeça das quais se encontra a escaramuça ocorrida entre dois associados quando um outro sócio se encontrava a discursar no palanque. Nesse momento os ânimos exaltaram-se e grande parte dos presentes mostrou a sua indignação pelo sucedido pois nada justifica – mesmo que tenham havido alguns excessos verbais – o recurso à violencia como forma de dirimir divergências.
Foi, do que me pareceu, um episódio infeliz mas perfeitamente localizado e circunscrito pelo que dizer que a AG foi marcada por confrontos não constitui nada mais do que apenas um título sencionalista para vender papel.
Digo-o sem querer com isto desculpabilizar quem praticou este acto e que curiosamente estava com quem apoiava esta Direcção, o que faz cair por terra a tese dos que querem passar a todo o custo a ideia de que é na oposição - ou sobretudo na oposição - que moram os terroristas.
Não vinculo como é óbvio – e penso que todos os sportinguistas devem ter o mesmo cuidado de não o fazer – os apoiantes de JEB com aquelas pessoas, da mesma forma que não aceito que conotem todo e qualquer sócio que tece críticas à Direcção com a lista do PPC ou com qualquer outra figura ou facção dentro do clube, porque se há algo positivo a retirar da magna assembleia de ontem é que ainda há muito quem pense pela sua própria cabeça dentro do SCP.
Ainda assim não posso deixar de criticar as declarações de Dias Ferreira à imprensa no final da AG quando disse que não tinha visto nada e não se tinha apercebido de qualquer ocorrência fora do normal. Quem lá esteve sabe que isto não é verdade. É certo que tal episódio NUNCA deveria ter ocorrido mas infelizmente aconteceu e até entendo que o intuito de Dias Ferreira fosse não criar muito ruído há volta de uma questão quase insignificante mas que houve alguém que dentro daquele pavilhão não pode expressar livremente a sua opinião lá isso houve, qur se goste ou não, mas como alguém disse uma vez “ pimenta no cú dos outros para mim é refresco” ...

Em jeito de resumo deixo-vos os MAIS e os MENOS da AG.

MAIS:

1. Serenidade e clareza demonstrada por JEB nas suas intervenções;
2. Humildade de JEB ao apresentar desculpas por alguns excessos cometidos no passado;
3. Ambiente calmo em que decorreram os trabalhos;
4. Presença de Costinha a demonstrar solidariedade com JEB

MENOS:

1. A agressão de um associado no interior da AG por parte de outro associado;
2. A escolha de um dia de semana para a realização da AG;
3. A interrupção de alguns oradores apoiantes da Direcção por parte de determinados sócios;
4. A fuga às questões relacionadas com o passivo e com a herança roquettista;
5. As observações completamente absurdas feitas por Vitor Espadinha ao guarda-roupa de Costinha e ao uso de calças de ganga. ( PS: O SCP não é os Malucos do Riso )
6. A desproporção dos meios policiais presentes ontem ( mais de 800 pessoas no pavilhão ) quando comparada com os que estavam mobilizados no dia da última AG da SAD.


SL

6 comentários:

  1. Então e os maldizentes, aqueles que têm o dedo refinado na blogosfera, ficaram sentados ou fizeram ouvir a sua voz?
    Apelaram ao fim do mundo ou demonstraram a coragem característica dos abutres?
    Ficaram conformados ou regressam ávidos de sangue após o próximo desaire nas quatro linhas?

    SL

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  2. Xôbenfas já vi pela tua pergunta que não pudeste estar presente.
    A verdade é que o ambiente que se viveu ali foi um bocadinho estranho e especial. Houve gente da blogosfera que subiu ao palanque e falou e outros que tu não sabes sequer se são bloggers ou não pois há muito quem escreva sem sob um outro nome, o que é o meu caso.
    Ainda assim penso que no cômputo geral correu bem e a verdade é que acho que é preciso ter estofo para subir lá acima e dar a cara sobretudo se for para criticar, mas essas pessoas merecem o meu respeito pela sua coragem. Pior são alguns senhores que sendo com toda a legitimidade opositores da actual Direcção - como eu sou - não sabem conviver com a diferença de opinião e apupavam outros sócios quando estes estavam a falar. Não concordo com essa postura, mas sei que isso é inevitável no meio de mais de 800 associados.
    Em suma, foi uma boa noite de sportinguismo sendo apenas de lamentar o triste incidente entre um par de associados.

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  3. Já li muita coisa em muito lado sobre esta AG, mas parece-me que o seu post é o mais equilibrado de todos. Dou-lhe os parabéns, pois mesmo sendo contra esta direcção tem a sabedoria de saber analisar com equidistância.

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  4. Obrigado caro Luis.
    No meio do ruído para o qual todos acabamos por contribuir a dada altura devido à frustração que sentimos pelos maus resultados, tenho procurado alterar a minha própria postura ultimamente por entender que se estão a começar a verificar cisões perigosas no seio da massa adepta do Sporting e penso inclusive tentar em breve fazer algo contra isso aqui no blog.

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  5. É sem dúvida o blog que me elucidou mais sobre o que se passou na assembleia, agradeço desde já a imagem coerente e real com que fiquei.
    Obrigado

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  6. Obrigado Acosta. Continue a "marcar" golos por estas bandas como o nosso antigo Matador.

    SL

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