segunda-feira, 14 de março de 2011

As Convicções São Como as Pedras: Podem Mudar...Mas Devagar


Se com a erosão até as pedras mudam, porque motivo não poderá um homem mudar ?

Este é o argumento que normalmente ouvimos àqueles que durante muito tempo defenderam com arreganho uma dada ideia e que acabam por algum motivo - ou ordem de motivos - de mudar o seu entendimento sobre uma dada realidade ou sobre um dado fenómeno.

É comum assistirmos à formulação de acusações deste tipo a políticos que mudaram de trincheira, em especial aos que apegados durante décadas a modelos de organização social e económica de matriz soviética, se viram ultrapassados pelos sinais dos novos tempos e, rendidos a essa evidência, tiveram o descernimento ( segundo alguns ) ou a desfaçatez ( segundo outros ) de mudar de rumo.

No entanto, uma coisa é inegável: em nenhum destes casos as mudanças operaram do dia para a noite, porque se a formação de uma ideia e da forte convicção que a sustenta, é um processo evolutivo, moroso e introspectivo, a libertação desse lastro após anos e anos a fazer a apologia do mesmo é concerteza um processo bem mais intenso e violento por laborar sobre um dos maiores tabus com os quais o ser humano desde sempre teve de se confrontar: a assunção de erros próprios.

Vem isto a propósito da recente constatação de que todos os que defendiam com unhas e dentes a realização de uma auditoria externa às contas do Grupo Sporting ( Dias Ferreira; PPC e Pedro Cunha Ferreira ) antes de se juntarem aos ditos "candidatos do regime" ( antes JEB e agora GL ) abdicaram surpreendentemente da mesma quando aceitaram fazer parte das listas dos candidatos supra.

Face a isto pergunto:

Mas um homem com "H" maíusculo não tem convicções ? TEM.

E homem com "H" maíusculo apesar das convicções não pode mudar? PODE.

O que não pode - digo eu - é mudar o núcleo essencial das sua convicções num tão curto espaço de tempo senão não nos é possível chegar a outra conclusão que não seja a de que afinal não existia convicção alguma.

A agenda de PPC e PCF por exemplo não se esgotava na questão da auditoria, mas é inegável que a auditoria externa constituia o cerne do seu programa de candidatura às últimas eleições à Direcção do SCP, e se se entendia que abdicassem de alguns pontos do seu programa de então em nome da coligação com a lista de Godinho Lopes ( pois como se sabe não há coligações sem fazer cedências, o que é perfeitamente normal e compreensível ) , não podemos deixar de assistir com total espanto à pura e simples "evaporação" daquela do novo discurso de ambos como se nunca tivesse sequer existido.

Então afinal os que advogavam pelo escrutínio total e absoluto das contas do Sporting por parte de uma entidade independentemente abandonaram sem mais esta ideia ?

Não deveria antes a inclusão da auditoria externa no programa eleitoral de GL ter constituido condição essencial sem a qual PPC e PCF deveriam ter rejeitado o convite que supostamente lhes terá sido dirigido por parte do Engº ?

A ser assim com que confiança posso eu encarar a certeza que estas pessoas agora põem no seu novo catálogo de convicções ?

Quem me pode garantir que daqui a alguns meses a cobertura do fosso, a substituição das cadeiras e a primazia da equipa de futebol não são também elas medidas transaccionáveis passíveis de ser sacrificadas em nome de valores mais altos que entretanto se levantarão ?

Como se pode ver, se a coerência não é uma valor absoluto, não é a nosso ver ajuizado fiarmo-nos apenas em palavras que pouco ou nenhum reflexo têm na realidade do factos, pois com isso estaremos a abrir a porta a todas e quaisquer surpresas futuras apenas e só porque qualquer mudança de rumo é compreensível à luz deste relativismo absoluto.

Tudo isto para concluir que afinal as pedras mudam, mas desenganem-se os que ainda pensam que os sócios do Sporting são calhaus com olhos e os tratam como tal.

SL

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